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Você, um vencedor.
Talvez seja fácil ser um vencedor, e você não saiba como fazer ou por onde começar. Talvez seja difícil, e dependa de muitos aprendizados...           leia mais...
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Qual é o seu caminho?

Não raro no seguir da vida, em qualquer segmento ou estágio, chegamos a uma encruzilhada, muitas vezes importante e que poderá se representar pela profissão que vamos abraçar, pelos investimentos no qual vamos depositar as nossas economias, pelo companheiro que vamos acolher na nossa alma, pelos amigos que vamos manter, ou mesmo pelo tipo de vida que vamos adotar, entre muitos e muitos outros momentos na nossa existência que exigem decisões, aparentemente, muito definitivas, e por isso graves, que exigem meditação, avaliação e, claro, infindáveis buscas de sinais místicos que nos indiquem o caminho e até o aconselhamento com os nossos gurus de plantão.

Uma borboleta que passa, um vento que sopra para o norte, uma nota nos jornais, um tropeção que acontece, o trovão que insiste a ressoar ao longe, ou até as formações de nuvens no céu, parecem ser advertências de que as decisões já não podem mais esperar.

Mas, as respostas do nosso dia-a-dia só conseguem confundir, seja pelas conflitantes afirmações oferecidas pelos nossos entes mais próximos, e produzem no nosso âmago um desconforto próprio de quem é questionado, ou seja pela ausência de idéias que possam resultar numa resposta certa, posto que parece notório que qualquer vacilo será irreparável.

Esta incerteza gera ansiedade, insegurança, uma sensação de impotência e ainda nos conduz a várias outras indagações. Afinal, o que somos, de onde viemos, para onde vamos, qual será o papel que o senhor do universo planejou para a nossa sabidamente curta passagem por este mundo.

Enquanto a nossa mente formula uma infindável quantidade e qualidade de quesitos, não para serem efetivamente respondidos, mas, objetivamente, para que possamos nos situar diante das intempéries da consciência, sentimos uma sensação física cientificamente perceptível e que se manifesta a princípio pela aceleração da respiração, passa pela intensidade e profundidade dos nossos batimentos cardíacos, depois se torna notável no ligeiro suor que aflora pelo nosso corpo como que estimulado pelo eriçar dos nossos pêlos, e o pior, não se exaure com a friagem no estômago e sequer com o alvoroço que se forma em nosso raciocínio enquanto reduz a percepção do mundo à nossa volta.

Enfim, a concepção mais clara deste estado de espírito poderia ser conceituada com o simples medo do desconhecido que, de época em época, se apossa do nosso corpo e ameaça não mais deixá-lo reagir, restando-nos, pobres e frágeis mortais, absorver-nos com uma atividade, benigna ou não, que nos permita fugir desta sensação.

Mas aí, exatamente neste momento, reside o perigo de consolidar-se em nosso íntimo a conformação com o estigma da fuga ou da inércia.

O risco é adotar este artifício natural, instintivo, para os seres viventes, como um novo habitat, e perdermos, desta vez em caráter verdadeiramente grave, a noção de repulsa pela covardia, enquanto nos esvaziamos do prazer pelo gozo do esplendor da vida.

Foi com esta indagação na cabeça e com o conflito estabelecido dentro da alma, que saí à rua e ao me deparar com um velho, maltrapilho e alquebrado, que se aquecia ao canto de um beco frio enquanto atiçava ao fogo um punhado de gravetos, arrisquei a perguntar-lhe qual seria o sentido da vida quando não se tem um horizonte e nem caminhos a percorrer.

A vida, tão desgraçadamente curta quando confrontada com o tempo universal, deveria ser especialmente amarga para aquele miserável, profundo conhecedor das injustiças sociais, dos males da pobreza, da doença, do infortúnio moral e da vulnerabilidade dos espécimes vivos, principalmente aqueles dotados da capacidade de sentir e pensar na existência.

A princípio, o velho apenas levantou as sobrancelhas, como quem não fosse dedicar ao intruso do seu pequeno mundo a menor das palavras.
 
Depois, como que absolutamente refeito dos males físicos que o acometiam, ousou levantar-se, postou-se ereto, seu semblante adquiriu ar professoral enquanto seus olhos pareciam irradiar uma juventude resplandecente.

Sua voz soou firme, forte, pausada, serena e com uma vibração insinuante de que aquele farrapo humano, mendigando pela calçada, apesar de tudo, pudesse encarnar um ente poderoso, talvez o senhor de toda a noite.
 

“É certo que a sua pergunta não busca uma resposta sobre a minha vida, e sim uma palavra que possa explicar a sua, mas isto não desqualifica o meu dever de arrefecer a sua angústia.”

Estas palavras, óbvio, não poderiam ser esperadas de um miserável, vítima notória do esquecimento dos deuses e, exatamente por isso, tentei sair em silêncio, sem esperar as palavras que sucederiam a este preâmbulo tão lúcido e ferino.
 
Mas não pude.
 
Faltou-me a coragem para empreender a fuga, então, quedei-me, ainda estarrecido, a escutar o sábio mendigo e, ainda hoje, mais de vinte anos passados, ainda ouço suas palavras:

“Talvez você imaginasse que este canto fétido e frio, sem luz e sem vizinhos, fosse a minha morada solitária, mas este é um engano que se repete pelos tantos transeuntes deste pedaço de rua que ora me acolhe.”

“A verdade é que estou aqui apenas de passagem, tenho uma rota já traçada, parei para um descanso rápido e aproveito o tempo para conferir minhas anotações, avaliar o percurso que deixei para trás e revigorar minhas forças. O alcance do meu objetivo está cada vez mais próximo, mas, nem por isso alargarei meus passos.”



 

“Eu tenho um sonho, sigo a caminho do mar.”

“Procuro a paz do encontro do azul do céu com o verde da imensidão das águas e quero também sentir a força das ondas desafiando os rochedos; vou embriagar-me com a paisagem do luar refletido na cortina de água espumante e não me cansarei de correr por sob os raios do sol, ainda que me turvem os olhos o confronto de sua luz refletida pela areia branca.”

“Embora queira buscar a suavidade da água banhando o meu corpo, me atreverei a quebrar seus contornos com movimentos bruscos, até agressivos, isto porque é assim que eu penso ser possível sentir a vida, embora outras pessoas o consigam com atitudes diferentes.”

“Mas, se outro fosse o meu sonho, e eu buscasse chegar as montanhas, teria o mesmo entusiasmo, disposição e, da mesma forma, consideraria esta parada uma mera atividade estratégica para lograr êxito no meu intento. Não abriria mão do meu sonho apenas pelas dificuldades, do contrário, eu correria o risco de quedar-me inerte, sem força e sem coragem para assumir minha maior empreitada.”

“Receio de que não seja capaz de responder a sua pergunta com informações plenamente satisfatórias, entretanto, posso assegurá-lo de que isto não tem a menor importância, imagino que o verdadeiro sentido da vida é a coragem para empreender uma jornada em busca dos sonhos, o essencial é que se possa conceber as agruras intercorrentes como meros acidentes de percurso, que não refletem na nossa disposição de seguir o caminho escolhido e nem mesmo aguce a nossa pressa de chegada ao destino.”

“Enfim, meu caminho ruma para o mar, já que o preferi às montanhas.”

“Apesar de decadente, sem alforje e, como visto, me falte agasalho e companhia, tenho a vida, sigo com ela e, de braços dados, imbuídos de uma maliciosa cumplicidade, estamos cumprindo nossa razão de ser.”

“Bem... e você, qual é o seu caminho ?”

Danilo Santana

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